Que tipo de dieta contribui para a saúde dos rins?
Hábitos alimentares saudáveis estão diretamente relacionados com a prevenção de problemas renais
Quando o assunto é dieta, é comum lembramos daquilo que é feito com a intenção de eliminar umas dobrinhas a mais ou diminuir o peso que aparece na balança. Entretanto, a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, destaca que a dieta também pode ter um objetivo diferente.
“Na maioria das vezes, uma dieta implica em perda de peso e vem carregada de restrições e talvez até de planos pouco saudáveis. Mas novas recomendações divulgadas recentemente por especialistas em saúde referem-se à dieta com um objetivo diferente em mente: prevenir doenças cardíacas, derrames e problemas renais”, afirma.
Segundo novas diretrizes realizadas pela American Heart Association e pela American College of Cardioly, uma rotina de alimentação saudável e nutritiva contribui para a redução do risco de ataque cardíaco e derrame, do colesterol alto, da diabetes e da pressão alta, sendo que todos esses são fatores de risco para o desenvolvimento de doenças renais e cardíacas.
“A dieta de padrão mediterrâneo ou a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) são as mais recomendadas para pacientes que já tem ou querem evitar problemas cardíacos e renais”, destaca a nefrologista.
“Os rins são órgãos muito complexos e sensíveis a qualquer mudança na estrutura química do sangue e o estilo de vida influencia significativamente a sua integridade e funcionalidade. A progressão da doença renal é, normalmente, silenciosa, portanto necessário que se aposte na prevenção, com análises sanguíneas e urinárias regulares”, completa a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
A nefrologista enfatiza há comprovação de que um padrão alimentar saudável, como a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), traz benefícios para a saúde renal, já que reduz a formação de pedras no órgão, diminui as chances de diabetes e de pressão alta.
“A dieta DASH é baseada na alta ingestão de frutas, verduras, vegetais, nozes, legumes, laticínios desnatados, grãos integrais e na baixa ingestão de açúcares e carnes vermelhas ou processadas. Nessas dietas, são recomendadas proteínas vegetais ou animais, desde que sejam magras (de preferência peixe)”, esclarece a Dra. Marcella Garcez.
A dieta DASH e a mediterrânea, no geral, possuem as mesmas bases. No entanto, enquanto a primeira permite o consumo de mais fontes de proteína de laticínios com baixo teor de gordura e cortes de carne e aves, a segunda, que não consiste em uma dieta específica, transparece os hábitos alimentares comuns em países que fazem fronteira com o Mar Mediterrâneo.
“Ambos os planos evitam alimentos ricos em gordura saturada e trans, que as diretrizes também desencorajam para proteger os rins e o coração”, fala a Dra. Caroline.
PROTEÍNAS
De acordo com a nefrologista, é preciso ter cautela em relação às proteínas, uma vez que “a ingestão proteica em excesso influencia a hemodinâmica renal, resultando em sobrecarga, devido ao aumento da taxa de filtração glomerular”.
“A dieta hiperproteica também parece aumentar o volume renal e o peso do rim. Também se sabe que um elevado consumo de proteínas predispõe à formação de cálculos renais”, acrescenta a especialista.
Ainda sobre o consumo das proteínas, a nutróloga Dra. Marcella Garcez informa que é fundamental ter alguns cuidados desenvolvidos conforme as características de cada indivíduo. “O consumo diário de proteínas deve ser individualizado e específico, tendo em atenção à idade da pessoa, o gênero, a atividade física, a profissão, o estado de saúde e os objetivos pessoais. As necessidades diárias podem ir de 0,6 a 2g por quilograma ao dia e dependem de vários fatores”.
Em casos de pacientes veganos, as médicas apontam que é necessário ter atenção ao cardápio. “Alguns veganos que evitam carne, laticínios e outros produtos de origem animal não estão fazendo seleções inteligentes se encherem seus pratos de frituras ou carboidratos refinados, como pão branco, macarrão, arroz branco e muitos alimentos ultraprocessados. Esses alimentos, em excesso, podem levar ao desenvolvimento de diabetes e problemas como resistência à insulina. O açúcar em excesso acarreta maior inflamação, com consequente risco de diabetes – que é o maior fator de risco para doença renal crônica no mundo. A resistência à insulina (condição típica do diabetes tipo 2) gera vasoconstrição (estreitamento de vasos) e retenção de sódio e água pelo organismo, como também o endurecimento dos vasos sanguíneos – o que pode lesar os rins”, conta a Dra. Caroline.
“O mais importante é ter uma dieta mais variada e equilibrada possível, com boas fontes de gorduras boas, carboidratos complexos (com mais fibras) e, nesse caso, proteínas vegetais, que devem ser combinadas para fornecer os aminoácidos necessários, preferindo sempre os alimentos in natura”, pontua a nutróloga.
ALIMENTOS QUE FAZEM BEM PARA OS RINS
A médica nefrologista cita alimentos que são benéficos para os rins. Dentre eles, estão: as frutas cítricas, que evitam a formação de cristas nos rins, o melão, que, por ser rico em citrato, ajuda a dissolver esses cristais, leite e derivados e as folhas escuras, que possuem uma grande quantidade de cálcio.
“Não caia em orientações antigas! Não corte o cálcio de sua dieta (leite e derivados). A falta de cálcio na dieta pode estimular a formação de pedras e, ao contrário do que se pensava, o paciente com cálculo deve ingerir uma quantidade normal de alimentos com cálcio por dia, de 1000 a 1200 mg por dia (3 a 4 porções de lácteos)”, alerta a Dra. Caroline Reigada.
CUIDADO COM O SÓDIO
Para manter os rins saudáveis, é essencial ter controle sobre a quantidade de sódio ingerida, pois o sal ocasiona a retenção de líquidos e a constrição das arteríolas, o que resulta na elevação da pressão arterial.
“A hipertensão de longa data lesa os rins e seus diversos vasos, ou seja, ocorrem lesões de órgãos-alvo, como acontece no coração e no cérebro. Dados recentes mostram que o sódio (sal) também modula o funcionamento de células imunológicas, apoiando a teoria do aumento inflamatório no organismo”, diz a médica nefrologista.
“Sabemos que o brasileiro adulto ingere em média 12g diárias, mais que o dobro recomendado, portanto para a população em geral a orientação de reduzir o consumo de sal é corretamente aplicada e em muitas situações a quantidade de 5g deve ser reduzida ainda mais, sempre com orientação médica”, indica a Dra. Marcella.
A nefrologista Dra. Caroline Reigada menciona que as doenças metabólicas (diabetes e obesidade), assim como as intestinais, precisam de orientações alimentares para serem tratadas, porque predispõem quadros de doenças renais. “Uma dieta adequada é fundamental na prevenção dos cálculos, pois a composição da urina está diretamente relacionada com a alimentação”.