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Tudo o que você precisa saber para ter uma alimentação ayurvédica

A ciência milenar indiana olha para a alimentação como uma ferramenta de autoconhecimento e autocuidado

Por Marcela De Mingo
Atualizado em 21 out 2024, 16h34 - Publicado em 12 set 2022, 08h00
alimentação ayurvédica
 (Diva Plavalaguna / Pexels/Divulgação)
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Você com certeza já ouviu falar sobre o ayurveda – a filosofia medicinal originária da Índia. Um dos seus principais pilares é uma visão integrativa do organismo – ou seja, analisá-lo por inteiro – e, nisso, a alimentação se torna uma ferramenta importantíssima. É por isso que a alimentação ayurvédica é uma vertente completa no ayurveda. 

O QUE É AYURVEDA? 

Para entendermos melhor a alimentação ayurvédica, vale a pena darmos um passo atrás para relembrarmos o que é o ayurveda. “É uma ciência milenar que, em sânscrito, significa: ayur – vida, e veda – ciência/conhecimento. Portanto, ayurveda traz conhecimentos práticos e filosóficos sobre saúde e bem-estar”, explica Renata Serena, terapeuta ayurveda especialista em gastronomia consciente. 

O ayurveda, ela explica, é considerado um dos sistemas medicinais mais antigos a ser continuamente praticado no mundo e, hoje, é apoiado por um sistema de saúde governamental na Índia e no Nepal, e também reconhecido pela sua importância e eficácia pelo Ministério da Saúde brasileiro e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

“Ayurveda é a ciência do corpo, da mente e do espírito, e incorpora uma filosofia baseada na (auto)consciência para trazer harmonia e equilíbrio para todas as áreas da sua vida”, continua. “Um sistema único embasado nas leis primárias da natureza. É uma medicina holística e natural que considera a filosofia ‘yatha pinde tatha bramhande’, que significa: ‘assim como no macro-cosmo, é o micro-cosmo’. Afinal, somos todos um.”

Por isso, Renata explica que a filosofia é uma ferramenta incrível de conhecimento e de autoconhecimento, que pode ser explorada diariamente pela arte da auto-observação e da presença consciente – para ela, o ayurveda é um esforço de observação incansável da realidade. 

alimentação ayurvédica
(Diva Plavalaguna / Pexels/Divulgação)
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ALIMENTAÇÃO AYURVÉDICA 

Agora que já estabelecemos a base do ayurveda, hora de olharmos, especificamente, para a alimentação. Segundo Renata, a alimentação ayurvédica reconhece que cada ser humano nasce com combinações únicas de doshas (ou energias), e esse equilíbrio natural é responsável pela diferença física, mental e emocional entre as pessoas. 

“Compreender essa singularidade energética, seu momento de vida e cruzar estas informações com a estação que estamos é chave para acessarmos a inteligência por trás desta filosofia no que diz respeito ao alimento”, diz a profissional. “Assim como escolher a qualidade e quantidade dos alimentos a serem ingeridos dependem de inúmeros fatores, como nosso poder de digestão, estado de saúde geral, estado emocional, características no ambiente em que moramos, entre outros.”

A partir do momento que compreendemos que não estamos isolados do meio, que fazemos parte de um todo maior e aprendemos a relacionar os ciclos da natureza com os ciclos do corpo, alcançaremos saúde, bem-estar e longevidade. 

“Neste sentido a alimentação ayurveda é um dos pilares dentro desta Ciência (junto com o Sono e Celibato), que pode ajudar cada pessoa a criar seu próprio estado de saúde ideal”, diz. 

DIETA OCIDENTAL X ALIMENTAÇÃO AYURVÉDICA

O objetivo primordial da alimentação ayurvédica é colaborar para o equilíbrio entre o corpo físico, a mente, a alma e a energia vital (chamada prana). 

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“A boa saúde (física, mental, de alma e energia vital) é uma consequência de tal equilíbrio. E aqui já podemos destacar uma visão amplificada e integrativa do papel do alimento quando comparado a uma dieta ocidental”, explica Renata. “A medicina milenar do Ayurveda entende que o ‘alimento’ é considerado remédio ou veneno dependendo da dose. E quando usado como remédio tem o poder de atuar em disfunções do nosso corpo, da mente, reverter sintomas e doenças, assim como prevenir patologias no longo prazo, além de aumentar a qualidade e expectativa de vida de um indivíduo.”

Outra característica dessa chamada ciência é a visão e utilização dos ciclos circadianos e da sazonalidade como elementos que determinarão como e o que comer – por exemplo, no ayurveda, a alimentação do verão jamais será igual a do inverno, e entre outono e primavera também existem adaptações.

“Prestar atenção ao que se come, portanto, é um dos pilares para obter saúde física, psicológica e espiritual”, completa.

BENEFÍCIOS DA ALIMENTAÇÃO AYURVÉDICA

“Podemos dizer que além de preconizar a busca pela consciência e bem-estar, foca na longevidade sem o desenvolvimento de doenças e uma maior conexão do nosso corpo e mente às necessidades vividas por ele”, explica Renata. 

Se parece difícil compreender como isso funciona, a profissional elenca outros importantes benefícios da alimentação pautada no ayurveda. Por exemplo: 

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  • Ajuda a restaurar e manter um metabolismo forte (agni)
  • Elimina ama – toxinas presentes em nosso corpo físico e mental
  • Reduz o estresse e riscos de burnouts
  • Retarda o processo de envelhecimento
  • Aumenta os níveis de imunidade do corpo
  • Melhora a força, resistência e vitalidade
  • Aumenta o nível de felicidade e conexão
  • Melhora a qualidade do sono e o intestino
  • Proporciona maior nível de disposição e foco

Isso significa que pessoas que sofrem de fadiga, falta de foco ou energia, letargia após comer, qualquer tipo de indigestão, gases, inchaço, dores de cabeça ou dores em geral e irritabilidade sem motivo aparente podem se beneficiar de uma alimentação como essa. 

alimentação ayurvédica
(Engin Akyurt/Pexels/Divulgação)

COMO COMEÇAR NA ALIMENTAÇÃO AYURVÉDICA? 

Primeiro de tudo, Renata explica que aderir ao ayurveda é ser corajoso, porque a filosofia é diferente de tudo o que aprendemos até agora. 

“É entender que seu corpo depende de você e da sua relação com o ambiente e com o todo. É dormir a quantidade necessária de horas, se movimentar todos os dias, comer o que supre suas necessidades e sabendo guardar o silêncio restaurador necessário para abrir espaço”, diz. “O sistema de alimentação ayurvédico, se analisado, é um sistema simples e inteligente e pode ser implementado por todos aqueles que buscam melhora na qualidade de vida e autoconhecimento.”

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Para a profissional, a principal questão dos dias de hoje é vivermos uma cultura que, primeiro, ainda cultua corpos muito magros e definidos e, segundo, oferece uma quantidade infindável de alimentos industrialmente produzidos e regras de alimentação que devem ou não ser seguidas (e que mudam o tempo inteiro). 

“O problema é que a cultura da dieta desregula nossos controles internos, nos desconecta de nossas necessidades e gera compulsão. Numa visão ayurvédica, a alimentação deveria estar pautada na compreensão das necessidades do nosso corpo, mente e alma, da sua fome e da sua digestão”, conta. 

Por isso, um primeiro passo é observar a capacidade do corpo de absorver alimentos – e, entre comer e absorver, existe uma etapa chamada agni, a nossa capacidade de digerir um alimento, um pensamento, uma fala, um acontecimento… enfim, tudo aquilo que experienciamos. 

“Quem se alimenta e não ‘absorve o que comeu’ forma toxinas (denominadas no Ayurveda de ama), que são os produtos que o seu corpo não usou e acumulou e que estão atrapalhando o seu bom funcionamento. No Ayurveda, uma pessoa saudável deveria comer duas vezes ao dia, com um intervalo de aproximadamente seis horas”, explica. “Note que isso varia muito de acordo com o seu estilo de vida e constituição corporal.”

A ideia tem a ver com dar o tempo para a digestão da refeição ocorrer completamente antes de comer de novo. Ah, e antes que a dúvida surja: não tem problema comer três vezes ao dia, apenas se atente para respeitar o sinal da presença da fome física entre uma refeição e outra. 

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“Ter consciência e presença para comer é o ato de retomar a conexão consigo próprio. Um ato de auto-amor. Observe se está comendo seu ovo cozido porque realmente tem fome, ou se é por tédio, por ansiedade, por vontade de fugir de uma situação, ou por alguma convenção social. Afinal, quando se sente exausto e sem energia, você precisa de uma pizza e uma cerveja ou de uma cama gostosa e uma boa noite de sono? Seu dia hoje foi estressante e triste, você precisa de um chocolate ou de um abraço?”, questiona a terapeuta. 

VAMOS PARA A PRÁTICA?

Algumas mudanças que você já pode começar a implementar são: 

– Coma apenas quando tiver fome
– Busque alimentos de verdade e disponíveis na estação
– Pratique o hábito de se observar e sentir fome e, então, coma
– Coma apenas a quantidade necessária para saciar a sua fome física
– Permita “espaço” para digerir completamente o que foi ofertado ao corpo
– Respeite o ciclo circadiano, deixando a refeição mais importante para o almoço, e encerrando a última refeição, menor e mais fácil de digerir, ao entardecer

ALIMENTAÇÃO AYURVÉDICA E AS ESTAÇÕES DO ANO

Comentamos, alguns parágrafos acima, como a alimentação não se mantém igual ao longo do ano no ayurveda. As mudanças de estação são momentos de renovação para essa ciência, e devemos oferecer ao nosso corpo uma “parada técnica” para reorganizarmos o organismo – assim como fazem as plantas e os animais. 

“Trata-se de um período auspicioso para o autocuidado, nos adaptando às mudanças da estação, mantendo nosso calor interno (agni) e imunidade altos para prevenir doenças, re-equilibrando nosso corpo, mente e espírito, propiciando um campo fértil para o despertar da saúde”, elabora Renata.  

Neste sentido, a alimentação nas transições das estações deve ser feita para preparar o corpo para que ele esteja apto a entrar na nova estação na sua melhor potência metabólica.

Ou seja, esse é um cuidado preventivo em que podemos implementar ajustes nas escolhas dos alimentos, práticas e rotinas, e amenizarmos os efeitos indesejados causados pela mudança do clima e desequilíbrios do nosso corpo, prevenindo o acúmulo de toxinas e desenvolvimento de doenças.

AYURVEDA NA PRIMAVERA

Agora estamos entrando na primavera, o que significa que esse é um momento de florescimento e renovação, de revitalização, para a natureza. 

Os dias vão ficando mais quentes, estimulando o movimento da terra, e o brotar das sementes que se recolheram no solo durante o inverno, buscando agora um ambiente limpo, nutritivo e confortável para poderem crescer.

É a melhor estação do ano para a desintoxicação, transformação e criação de novos hábitos, aproveitando o fluxo de energia renovadora que a terra emana naturalmente nesta estação.

O agni – nosso fogo digestivo – está enfraquecido e nosso corpo pesado, pedindo uma alimentação mais leve para que possamos limpar os acúmulos e excessos do inverno.

Hora de fortalecer nossa digestão, de perder peso e toxinas acumuladas, re-equilibrando corpo, mente e espírito, revisitando escolhas através de práticas depurativas que nos permitam deixar para trás o que não nos pertence mais, abrir espaço e criar um ambiente interno fértil para a nova vida que queremos receber e brindar.

Ao deixarmos de lado estes pequenos ajustes que a chegada da estação pede, nosso corpo enfraquece, promovendo o acúmulo de toxinas e perda da potência máxima metabólica.

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