Adoçante faz mal? Descubra se ele é mocinho ou vilão
Há quem defenda que é melhor comer açúcar em menor quantidade. Qual será a alternativa mais saudável?
Existem poucos alimentos que têm uma reputação mais controversa do que o açúcar — você provavelmente já ouviu falar que doces fazem mal à saúde e devem ser limitados. Em vez disso, uma longa lista de alternativas promete entregar a mesma doçura sem a adição de carboidratos e calorias. São os adoçantes.
Dito isto, tem havido orientações contraditórias em torno do consumo a longo prazo de adoçantes artificiais, ligando-o ao aumento do risco de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até à mortalidade geral em adultos.
Os adoçantes artificiais são geralmente reconhecidos como seguros pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (a Anvisa), por isso o risco de problemas graves de saúde é bastante baixo. Em estudo sobre a relação deles com o câncer, por exemplo, descobriu-se que as pessoas precisariam consumir quantidades radicais de aspartame para estarem em risco — uma pessoa de 150 quilos poderia beber dezenas de latas de refrigerante diet sem causar danos.
Ao mesmo tempo, “uma pesquisa publicada neste mês na revista científica European Heart Journal mostra a associação do Xilitol com risco quase dobrado de ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e morte”, aponta a médica Dra. Elaine Dias, PhD em endocrinologia pela USP e metabologista.
Então, afinal, qual é a segurança dos adoçantes?
O que é adoçante artificial?
Adoçantes artificiais são substitutos do açúcar usados para proporcionar um sabor doce a alimentos e bebidas com pouca ou nenhuma caloria. Eles são normalmente muito doces, então uma pequena quantidade de adoçantes artificiais pode substituir uma grande quantidade de açúcar.
Você pode estar familiarizado com aqueles pacotinhos de adoçantes em restaurantes e cafeterias, mas essas alternativas ao açúcar também são frequentemente encontrados em refrigerantes diet e alimentos comercializados como “sem adição de açúcar”. Eles também são normalmente encontrados em produtos assados, chicletes, sorvetes, iogurtes, sucos de frutas engarrafados, pães, molhos para salada sem gordura e condimentos como ketchup.
Adoçantes artificiais: efeitos colaterais e riscos
Os efeitos colaterais da ingestão de adoçantes artificiais não são comuns. No entanto, algumas pessoas podem ser mais sensíveis ao ingrediente e sentir dores de cabeça ou piora do humor após consumir aspartame, em particular,. Outros relatam problemas digestivos como gases, prisão de ventre e inchaço após consumir alimentos com certos adoçantes artificiais, mas não é conclusivo se esses efeitos colaterais são realmente causados pelos próprios adoçantes artificiais.
Agora, quando se trata de riscos potenciais à saúde, as descobertas são preliminares e são necessárias muito mais pesquisas. Alguns estudos sugeriram ligações potenciais entre certos adoçantes artificiais e condições como distúrbios metabólicos ou alteração da microbiota intestinal. Especificamente, a ingestão de sacarina e sucralose foi associada a respostas mais elevadas de glicose no sangue e alteração da função do microbioma intestinal em adultos.
Outro estudo descobriu que o alto consumo de adoçantes artificiais, em geral, estava associado a um risco aumentado de câncer. Dito isto, a investigação não mostrou claramente uma relação de causa e efeito. “Atualmente, a base global de investigação carece de provas conclusivas de riscos significativos para a saúde no consumo moderado de adoçantes artificiais”, diz a nutricionista estadunidense Jenn Baswick.
Também pode haver uma ligação entre adoçantes artificiais e inflamação no intestino, de acordo com um estudo de 2021. Também aqui são necessárias mais pesquisas — mas, se for verdade, os adoçantes artificiais podem exacerbar os sintomas de problemas digestivos como a doença de Crohn ou a doença inflamatória intestinal.
O resultado final é que são necessárias mais análises para fazer afirmações conclusivas sobre o impacto dos adoçantes artificiais nos riscos para a saúde a longo prazo.
Adoçantes artificiais X Açúcar
Adoçantes artificiais são compostos quimicamente modificados criados em laboratórios, enquanto o açúcar é encontrado mais naturalmente em plantas como cana-de-açúcar, milho e beterraba.
Também é crucial lembrar que o açúcar não é mau nem inerentemente ruim: ele contém calorias e contribui para a ingestão total de energia de um indivíduo.
Então, o açúcar é melhor do que os adoçantes artificiais? É difícil dizer. Pequenas quantidades de açúcar ou adoçantes artificiais em uma dieta geral bem balanceada provavelmente não serão problemáticas, mas depender demais desses alimentos ultraprocessados pode excluir alimentos mais ricos em nutrientes, conhecidos por reduzir o risco de doenças crônicas.
Nas conclusões da OMS sobre como evitar adoçantes artificiais para perda de peso, a agência “esclareceu que as evidências para a sua nova recomendação são fracas, portanto o verdadeiro impacto dos adoçantes artificiais na nossa saúde ainda está por ser visto”.
Então, adoçantes são ruins para você?
Não há uma resposta clara e é difícil dizer com certeza se algo é absolutamente “ruim para você”, diz os nutricionistas entrevistados.
Mas a Dra. Elaine recomenda que as pessoas considerem o uso de adoçantes artificiais em pequenas quantidades e optem por algumas alternativas específicas, como a sucralose, que não apresentou nenhuma associação a riscos significativos de coagulação sanguínea. “Ela possui baixo impacto glicêmico, pode ser utilizada em cozimentos e assados sem perder seu poder adoçante, é aprovada por diversas agências de saúde ao redor do mundo, incluindo a FDA (Food and Drug Administration) nos Estados Unidos e a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil. Porém, ainda assim a sucralose deve ser utilizada com moderação”, ressalta a endocrinologista.
Os adoçantes, no geral, podem ser muito úteis para pessoas com diabetes tipo 2, que procuram controlar o açúcar no sangue. Ainda assim, Elaine explica que o uso de adoçantes artificiais deve ser feito apenas quando necessário e em pequenas quantidades. “É importante diversificar as fontes de doçura, combinar o uso de adoçantes artificiais com outras alternativas naturais, como frutas frescas ou mel. E sempre monitorar a saúde, ficar atento a qualquer reação adversa, assim como consultar um profissional de saúde regularmente”, conclui a médica especialista.